Boletim DENEM (Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina)  - 26/09/2005 - Edição 6

http://www.denem.org.br/moduloBoletim.do?type=show&id=last

 

 

AVANÇOS NA CAMPANHA "NÃO AO EXAME DE ORDEM"!

Pela defesa de critérios na abertura de novas escolas na área de saúde! Contra a mercantilização da educação!

 

Audiência Pública na Câmara dos Deputados
A Campanha Contrária ao Exame de Ordem vem ganhando força na sociedade. No último dia 13 de setembro, no auditório da Câmara dos Deputados, foi convocada uma audiência pública para debater o projeto de lei 840/03, do Deputado Elimar Máximo Damasceno (Prona-SP), que visa instituir o Exame de Ordem para os recém-formados em Medicina. Participaram a DENEM, a Federação Nacional dos Médicos (FENAM), o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Associação Médica Brasileira (AMB) e o Conselho Nacional de Saúde (CNS). Todas as entidades presentes afirmaram o posicionamento contrário a tal medida por acreditarem que o Exame não resolve a questão de fundo e central, que é a necessidade de melhoria na formação dos médicos e medidas claras para impedir a abertura indiscriminada de escolas médicas no país. A chance de retirada desse projeto de lei ganhou força e alguns deputados presentes afirmaram o interesse em construir um projeto de lei que impeça a abertura das escolas médicas de maneira desenfreada como acontece hoje.

A Defesa por Critérios na Abertura de Novas Escolas Médicas
A DENEM, na sua última Reunião dos Órgãos Executivos (ROEx), que congrega o conjunto dos Centros e Diretórios Acadêmicos, levantou a necessidade de realizar um amplo debate na sociedade a respeito de critérios na abertura de cursos na área de saúde. Defendemos que, para que um curso seja aberto, é necessário projeto político-pedagógico qualificado, infra-estrutura, corpo docente, além de necessidade social do curso. No caso do Brasil, quem permite a abertura de uma escola médica é o Conselho Nacional de Educação (CNE) que, diferente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), é pouco democrático e segue uma lógica da educação como mercadoria. O CNS, por estar mais próximo da realidade da prática médica, poderia contribuir muito para análise da necessidade de abertura de qualquer curso da área de saúde, mas até o momento ele não tem poder deliberativo sobre tal questão. A DENEM vem defendendo a mudança dessa situação, lutando pela maior democratização do CNE, uma nova composição, além do poder do CNS para vetar a abertura indiscriminada. Vale ressaltar que já foi apresentado pelo Ministério da Saúde um estudo sobre a distribuição de profissionais médicos pelo país, o número de cursos na área de saúde, a distribuição de vagas nos Programas de Residência Médica, a quantidade de vínculos trabalhistas dos profissionais médicos e sobre as experiências em outros países. O material tem sido utilizado em debates acerca de novos cursos médicos.

E o Exame de Habilitação do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP)?
A primeira dificuldade em se debater a proposta do CREMESP é saber exatamente o que o Conselho pretende com a prova que acontecerá no próximo dia 8 de outubro para os recém egressos das faculdades de medicina do estado. O Conselho vem mudando o discurso, inicialmente defendendo a adoção de um Exame de Ordem no país. Ao visualizar o isolamento com essa posição, apenas com apoio da Associação Paulista de Medicina e da Folha de São Paulo, o Conselho afirma que a iniciativa é por um estudo no estado que objetiva avaliar as escolas médicas a fim de melhorar a formação.

No entanto, nos debates realizados nas faculdades, quando questionado pela DENEM sobre o posicionamento em relação ao Exame de Ordem Nacional ou mesmo se uma prova dessas seria suficiente para se fazer o diagnóstico da Formação Médica, o CREMESP acaba em silêncio, tirando o foco do debate e afirmando que alguma coisa deve ser feita. Outra pergunta não respondida é a finalidade do Certificado para quem passar na Prova, já que falam que é apenas um estudo. Seria um selo de qualidade? Para que seria utilizado? Outro questionamento é quanto à legalidade de o Conselho realizar uma prova de ordem no Estado, uma vez que não é atribuição de um Conselho Profissional a qualidade da formação, mas sim das Universidades.

Parecer da Comissão Estadual de Residência Médica de São Paulo
Há algumas semanas a campanha contrária ao Exame de Ordem teve grande vitória ao conseguir parecer favorável à não utilização dos resultados do Exame do CREMESP como critério nas provas de residência. Esta sugestão foi uma tática utilizada pelo CREMESP para que, por meio da ameaça, os estudantes de medicina fossem forçados a fazer a prova do Conselho. A votação no plenário da Comissão Estadual foi de 11 favoráveis ao parecer e apenas 5 votos contrários. Entre eles o próprio CREMESP, que contraditoriamente afirma que o exame não é obrigatório.

Campanha ganha novos Parceiros
A Campanha “Não ao Exame de Ordem / Avaliação se Faz na Escola / Por uma Formação Médica de Qualidade!” avançou rapidamente com o apoio imediato da União Nacional dos Estudantes, que em seu último Congresso se posicionou contrária ao Exame, assim como ao posicionamento da Rede Unida. De agora em diante, a tendência é ampliar ainda mais a campanha, fomentando discussões nos Conselhos de Saúde e em todos os outros cursos. Principalmente aqueles que também estão sendo ameaçados por uma proposta retrógrada de Exame de Ordem, como o curso de Veterinária. O apoio também deve haver das outras executivas de curso da área de saúde, associações, sindicatos e conselhos de outras profissões. A Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM) finalmente se posicionou contrária ao Exame de Habilitação proposto pelo CREMESP em São Paulo.

Campanha vem ganhando apoio de demais estudantes e Universidades
As Escolas de Medicina paulistas se preparam para uma grande mobilização em outubro para denunciar os retrocessos da prova do CREMESP, suas falhas e incoerências, além de garantir que seus resultados não sejam utilizados de forma ilegal. Muitas escolas realizaram debates entre agosto e setembro, e já se posicionaram contrárias ao Exame. É o caso da FAMEMA (Marília), UNESP (Botucatu), UNICASTELO (Presidente Prudente), UNICAMP. Os debates já aconteceram na UNISA (Santo Amaro), FAMERP (Rio Preto), USP-SP, USP-RP, UNIFESP, FCM Santos, PUCCAMP e muitas outras discussões já estão agendadas no Estado. USP- RP, USP-SP, Unesp-Botucatu, UNICAMP. Em outras regiões do país, a discussão não ficou por menos: UFMG, UFPE, UNIRIO, e tantos outros Centros Acadêmicos se posicionaram contrários ao Exame de Ordem.
____________________________________________________________

Carta de posicionamento da DENEM sobre a conjuntura do país e análise sobre a Saúde

CARTA ABERTA À SOCIEDADE BRASILEIRA
São Paulo, 17 de setembro de 2005.

Acompanhamos hoje, a situação caótica de crise política em nosso país. Os fatos recentes de compra de votos e corrupção no poder legislativo, expandida para outros setores estatais, aliados ao modelo econômico implementado pelo atual governo e a uma política de alianças contraditória, culminaram numa grande descrença por parte da população quanto à viabilidade de um modelo alternativo de sociedade com efetiva democratização e justiça social.
Passados quase três anos das eleições presidenciais, as políticas e medidas que vêm sendo adotadas não indicam uma superação do modelo neoliberal, evidenciando o rebaixamento programático. Em que pesem os esforços do conjunto do movimento social, diversos setores, e mesmo internamente, o governo mantém e vem consolidando a política naquilo que é essencial.

No plano da política econômica, a marca desta opção é o comprometimento assumido pelo governo para com os credores internacionais, relacionado à elevação da meta de superávit primário e à desvinculação das receitas da União. O conjunto das opções feitas pelo governo Lula orienta não só a política econômica, mas também as políticas setoriais e as medidas legislativas de iniciativa do Executivo. Isso se comprova no contingenciamento do orçamento federal, deixando cada vez mais claro que, mesmo naqueles setores onde parece haver uma efetiva disposição de implementar políticas em favor da transformação social, a prioridade em se “honrar os compromissos”, garantindo “confiança e credibilidade” dos credores, tornam-se obstáculos intransponíveis.

Mais do que não renovar o acordo com o FMI, é necessário reduzir os juros e garantir a inversão de prioridades dos fundos públicos. Estas são condições fundamentais para o governo fazer as transformações estruturais de que o país precisa.Em resumo, a política econômica adotada pelo governo não permite libertar o país da herança neoliberal, pois não quebra a hegemonia do capital financeiro; não permitindo superar o modelo econômico neoliberal. Isso impede o crescimento econômico sustentável, não permitindo o desenvolvimento com igualdade social, já que reserva poucos recursos para os investimentos sociais.
Com esse pano de fundo, reflexos da opção neoliberal e do medo de romper com as classes dominantes foram as reformas previdenciária e universitária, que, de fato, não foram debatidas amplamente com a sociedade e são marcadas pelo cunho neoliberal. Além disso, a realização da reforma agrária, altamente estratégica para a distribuição de renda, para um novo modelo de desenvolvimento, baseado na pequena propriedade e no direito à terra foi secundarizada.
Por conta disso, há uma desilusão comum em grande parte daqueles que acreditavam numa forma alternativa de se construir a sociedade brasileira, como diversos setores dos movimentos sociais que deram demonstrações de apoio e fortalecimento das plataformas defendidas historicamente pela esquerda do Brasil.

A crise política estabelecida no país com as recentes denúncias de corrupção teve intensa repercussão na grande mídia que, através de sua interpretação da CPI e do apelo ao sensacionalismo, aliou-se a setores conservadores da sociedade ganhando força com o discurso de combate à corrupção e resgate da ética, negando a existência de diferença programática entre os partidos políticos. Em outras palavras a direita afirma que diante da corrupção, direita e esquerda desapareceriam, a polarização seria entre honestos e corruptos. Nossa missão nesse momento é a de rompermos com esse discurso vazio que está colocado diante da sociedade, contribuindo para a não alienação do povo. Temos como desafio o fortalecimento da militância política qualificada, da luta pelos ideais de uma sociedade sem opressões, discriminação, da luta pela emancipação de todos, pelos interesses dos mais pobres e dos mais humildes.

Toda essa situação caótica em que vivemos tem como uma de suas origens a política de alianças adotada desde o início do Governo Lula, que se por um lado é justificada pelo fato de a direita ainda manter grande força em instituições estatais, principalmente no Congresso Nacional, se traduz, mesmo assim, no nosso entender, num equívoco político.
Além disso, é adotada uma política de governabilidade centrada no parlamento ao invés de fortalecer os vínculos com setores populares e movimentos sociais. Essa concepção de governabilidade mostra seu esgotamento, pois tornou o governo dependente de uma maioria da direita, refém do fisiologismo predominante nos partidos conservadores; transformando o governo em anteparo das atitudes tomadas pelos partidos das elites e abrindo mão de táticas adotadas historicamente pela esquerda, como a mobilização popular para pressionar o Congresso. Uma das expressões dessa política foi a derrota para a residência da Câmara dos Deputados e a derrota nas eleições de 2004.

Outra questão no debate é a urgência de uma Reforma Política no país. É papel dos movimentos sociais e setores populares pressionarem para a realização, a partir de amplo debate com a sociedade, de uma reforma política democrática; que fortaleça a democracia e dê ampla transparência ao funcionamento dos partidos políticos e aos processos decisórios. Dessa maneira os movimentos sociais, e nos incluindo nesse desenho, devem ir às ruas, com as reivindicações mais do que nunca afirmadas.
No cenário atual, não há correlação de forças favorável. No entanto, devemos ter clareza que isso é algo mutável e a todo instante em disputa. Para os setores populares e os lutadores do povo temos no presente um grande desafio: a construção de uma agenda em comum, apontando para a priorização das convergências entre os diversos segmentos ao invés de supervalorizar as divergências.

É hora de todos os setores que querem a mudança no país e que defendem um Brasil justo, igualitário, sem alienação e amplamente democrático se unam! Essa é a movimentação que defendemos nesse momento singular da história do Brasil!
1) Exigimos completa e rigorosa investigação das denúncias de corrupção, feitas ao Congresso Nacional e à imprensa, e punição dos responsáveis;
2) Priorizar outra base de apoio, excluindo os setores conservadores e oportunistas do governo federal;
3) Em defesa de ampla Reforma Política no Brasil, com o fortalecimento da participação popular;
4) Realizar mudanças na política econômica no sentido de priorizar direitos constitucionais: emprego, salário-mínimo digno, saúde, educação, moradia, reforma agrária, meio ambiente, demarcação das terras indígenas e quilombolas;
5) Combater o monopólio dos meios de comunicação, lutando pela sua democratização,
inclusive através do fortalecimento das redes públicas e comunitárias.


Saúde é um Direito, não é Mercadoria!!!
A DENEM possui profunda relação com o Movimento de Reforma Sanitária. Possui origem em 1986, auge da luta sanitária, representada nos avanços conquistados na VIII Conferência Nacional de Saúde. A Defesa da Saúde enquanto um direito para nós traz debate estratégico para nossa militância, pois aponta a luta pelas políticas sociais universalistas no Brasil e a disputa, desse modo, de outros setores estratégicos da sociedade.

Para nós ser “Movimento em Defesa da Vida!” vai muito além de meramente a defesa intransigente do Sistema Único da Saúde. Antes disso, ser em defesa da vida se representa pela luta a favor de uma sociedade autônoma, sujeita de sua história, equânime, democrática, justa. Significa a não aceitação da opressão pelas elites desse país, a não aceitação da profunda desigualdade social, em que uns tem tudo e outros nada! Significa a valorização da tolerância, do diálogo, da solidariedade e sentimento de coletividade como valores a serem perseguidos...

Para a efetivação do direito à Saúde, a DENEM defende as seguintes bandeiras:
1. Defesa incondicional dos princípios e diretrizes da Universalidade, Integralidade, Equidade, Descentralização e Participação Social;
2. Extinção da Desvinculação de Receitas da União (DRU);
3. Regulamentação conjunta das profissões da saúde, após amplo debate envolvendo a sociedade, com definição de competências compartilhadas e próprias de cada profissão, respeitando o princípio da integralidade do SUS;
4. Ampliação do Controle Social, através da criação de Conselhos Locais de Saúde (Conselhos Gestores) em todas as unidades de saúde próprias e conveniadas ao SUS, com composição paritária de usuários e caráter deliberativo;
5. Regulamentação da EC-29;
6. Criação de Plano de Carreiras, Cargos e Salários – PCCS-SUS em todas as esferas de governo;
7. Cumprimento da deliberação do Conselho Nacional de Saúde – CNS “contrária à terceirização da gerência e da gestão de serviços e de pessoal do setor saúde, assim como, da administração gerenciada de ações e serviços, a exemplo das Organizações Sociais (OS), das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs) ou outros mecanismos com objetivo idêntico”;
8. Proibição da propaganda de medicamentos e da indústria farmacêutica nos locais de ensino de graduação em saúde (instituições de ensino, Hospitais Universitários
e demais unidades de saúde do SUS);
9. Destinação de 100% dos leitos e serviços de Hospitais Universitários e de Ensino Públicos para o SUS;
10. Contra a abertura indiscriminada de novas escolas na área da saúde. Pela abertura de cursos apenas em instituições públicas após comprovação da necessidade social. O Conselho Nacional de Saúde deve ter poder deliberativo em conjunto com o Conselho Nacional de Educação para abertura de novos cursos;
11. Fortalecimento das políticas de atenção básica à saúde;
12. Defesa da continuidade das políticas de educação permanente em saúde;
13.
Ampliação da política de assistência farmacêutica estatal.

 

Greve dos docentes chega a 23 universidades - 26/09/2005

Outras 18 podem aderir ao movimento nos próximos dias

Leia a matéria completa

 

Armação pró-transgênico - 21/09/2005

Após a Lei de Biossegurança afastar os ministérios da Saúde e do Meio Ambiente do processo de avaliação de transgênicos, o lobby do setor pressiona por uma CTNBio bem simpática à causa

Leia a matéria completa