AS PESQUISAS DE OPINIÃO
Fernando
Lima
Professor
de Direito Constitucional da Unama
29.10.2006
“O Brasil
vale tanto quanto o seu voto”, diz a propaganda oficial, tentando convencer o
eleitor de que a ele cabe a decisão dos destinos do País. No entanto, não é
possível que, nas atuais circunstâncias, alguém, que tenha um mínimo de bom
senso, possa acreditar que o eleitor brasileiro tem, realmente, a capacidade
para escolher, com inteira liberdade e discernimento, os seus candidatos.
Em
primeiro lugar, pela própria realidade sócio-econômica e pelo baixo nível
educacional da grande maioria do eleitorado brasileiro, que os governantes se
esmeram em perpetuar, a sua capacidade de escolha consciente já estaria, com
certeza, seriamente comprometida. Para piorar ainda mais as coisas, porém, como
ninguém desconhece, o resultado das eleições também pode ser falseado – e isso
tem ocorrido com muita freqüência –, pelo abuso do poder econômico, e pela utilização da chamada máquina governamental. Dessa maneira,
com a ajuda das pesquisas de opinião pública e da imprensa, o resultado das
eleições pode ser, facilmente, alterado, programado, ou manipulado, de acordo
com os diversos interesses envolvidos nesse processo, sempre contrários, é
claro, ao interesse público.
O poder pertence
ao povo, diz a Constituição brasileira atual. A Constituição do Império já
dizia o mesmo, embora por outras palavras: “Todos estes poderes do Império do
Brasil são delegações da nação”. Já está em tempo, portanto, depois de quase dois
séculos, que o povo saiba como usar o poder que lhe pertence.
Considero
inteiramente desnecessário, neste ponto, provar a verdade do que afirmo, provar
que o povo ainda não sabe usar esse poder, porque os resultados das últimas
eleições são muito claros, tantos foram os corruptos que debocharam do povo e,
mesmo assim, foram reeleitos.
Já está
em tempo, evidentemente, de que o legislador brasileiro, para acabar com essa
imoralidade, entre outras coisas, proíba a divulgação das pesquisas de opinião,
no mínimo, um mês antes da data das eleições, para que o eleitor, na sua
ingenuidade, não seja levado a votar de acordo com o resultado dessas pesquisas,
que tudo indica podem ser facilmente manipuladas. Reconheço que isso talvez não
seja muito fácil, pretender que o Congresso aprove uma lei dessas. Talvez seja
pedir muito, de um Congresso que tenha sido eleito, em sua maioria, exatamente,
graças à utilização desse processo espúrio.
Mas é
evidente que isso não pode continuar. A divulgação das pesquisas tem sido
utilizada, claramente, para enganar o eleitor, como se observa pela simples
leitura dos jornais de hoje (domingo, dia 29.10.2006). O Liberal publicou uma
pesquisa do Ibope, com destaque na capa, dizendo que houve empate técnico e que
o resultado da eleição do Governador do Pará somente será conhecido após a apuração.
O Diário, porém, também com manchete de primeira página, vaticinou: “Ana vence
Almir: 52% a 48%”. Esses são os fatos, que não podem ser desmentidos. As
notícias e/ou os resultados das pesquisas conflitam, o que prova que alguém
errou, inadvertida ou deliberadamente.
Ainda mais
grave, porém, é que, mesmo sendo proibida, no dia das eleições, a distribuição de propaganda política, recebi, na minha
residência, jogada pela grade do portão, a primeira página do Diário de sábado,
com esse mesmo resultado da Vox Populi,
dizendo que Ana Júlia será eleita governadora. Para completar o abuso, havia um
adesivo colado no jornal, com os dizeres: “Lula de novo com a força da
cultura”. Evidentemente, no intuito de ludibriar o idiota do eleitor.
O que significa, realmente, aquela
propaganda oficial, citada no início deste artigo? Se o Brasil vale tanto
quanto o seu voto, será que o Brasil não vale nada? Ou será que o Brasil não se
dá ao respeito?
P.S.: Se você, prezado leitor,
é um deficiente auditivo, ou aquilo que antes se chamava, com a licença da
palavra, surdo, pode ir se preparando, porque, a partir de amanhã, os políticos
não precisam mais do seu voto, e a sua mordomia vai acabar. A partir de amanhã,
quando os políticos discursarem, na TV, não vai ter mais aquela figurinha no
canto da tela, traduzindo tudo para você, na linguagem de sinais, e você vai
ter que ler tudo nos lábios, ou esperar, pacientemente, mais quatro anos.
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