Política do bem

O Liberal, 24.08.2008

 EDMUNDO OLIVEIRA, Ph.D.

Jurista Sênior, Consultor Científico da ONU para o Programa de Prevenção do Crime.

 

Nós já nos acostumamos com campanhas políticas de poucas propostas concretas e sinceras, mas está chamando a atenção, nos Estados Unidos, o projeto que o candidato a presidente Barack Obama lançou para seduzir a juventude: conceder a todo estudante universitário um crédito anual de quatro mil dólares para ajudar nas despesas escolares. O projeto faz sucesso, embora a quantia não seja suficiente para assegurar os custos de uma boa universidade, que costuma ficar entre dois e quatro mil dólares por mês. É por essa razão que as famílias americanas têm o hábito de guardar dinheiro, desde o nascimento do filho, para garantir o seu ingresso na faculdade. Existe ainda a possibilidade de o filho revelar notável talento, a ponto de receber uma bolsa de estudos, entre as várias opções ofertadas pelas universidades.

Quatro mil dólares por ano, conforme a proposta de Obama, irão ajudar em gastos correntes. A vantagem é que o dinheiro não deverá ser reembolsado, porém o beneficiado assumirá o compromisso de dar a contrapartida em serviços comunitários, engajando-se nos programas que atendem aos indicadores sociais, destacando-se o apelo à preservação da segurança pública com administração de qualidade merecedora de crédito por parte da população.

A proposição de Obama não agrada somente aos jovens, mas também representa um reforço, do ponto de vista político, ao apresentar-se como o candidato que defende a recuperação do espírito comunitário da sociedade americana, no cultivo da velha e boa tradição de convocar as pessoas a assumir responsabilidades pelo destino de seu bairro e de sua cidade. De uns tempos para cá, esse espírito vem sendo substituído por uma postura individualista e até mesmo de indiferença em relação ao convívio comunitário.

A popularidade de Obama cresceu, nos meios universitários, ao mostrar o desejo de mobilizar o país em torno de ações de governo com um estilo de homem público bem-visto, que agrada à massa da população, vencendo o egoísmo tão freqüente na arte de se fazer política de maneira banal. Ele demonstra vontade de dar alento à nova cultura das instituições policiais, sob a égide de um princípio essencial: o uso permanente da intimidação e da força não gera bons frutos nem contribui para reduzir as diferenças sociais.

O crédito de quatro mil dólares para ajudar nas despesas escolares também permite visualizar as estratégias que Obama tem em mente, visando provar que o envolvimento da comunidade é fundamental no exercício da prevenção e controle do crime, envolvimento efetuado com planejamento, inteligência, determinação, ética e confortável suporte tecnológico. A própria Polícia está na obrigação de saber ensinar como cada cidadão deve assumir o compromisso de tornar sua família e sua vizinhança cada vez mais seguras, promovendo, inclusive, cursos de técnicas de identificação de atividades suspeitas.

Ultimamente, nos Estados Unidos, os investimentos em segurança pública têm sido avaliados pela queda da criminalidade e pelas taxas de resolução de conflitos, baseadas em bancos de dados e mapeamentos confiáveis, sobretudo nas áreas mais problemáticas. As modernas delegacias de Polícia passaram a agir como empresas, sendo acompanhadas por auditores independentes e gerenciadas por um contingente de policiais preparados adequadamente. Essas ações têm sido apontadas como o principal motivo para a queda do número de assassinatos e agressões violentas nas pequenas e grandes cidades mais visitadas.

É bom falar de boas iniciativas interessadas na busca de soluções duradouras aos problemas cotidianos, entre os quais está o desafio da insegurança pública, que faz crescer o medo, generaliza a insatisfação e justifica a anulação dos direitos humanos.