EXAME DE ORDEM DA OAB: A
REVOLTA DOS “PIOLHOS”...
Reynaldo Arantes
01.10.2009
Bacharel
em Direito pela UNOESTE de Presidente Prudente/ SP e Presidente Nacional em
exercício da OABB/ MNBD - Email mnbd.brasil@gmail.com e mnbd.sp@uol.com.br
Mais uns poucos dias e nossa
Constituição Federal estará completando sua maioridade incontestável. Em 5 de
outubro de 2009 ela completa 21 anos de existência. É como um jovem que vai
deixando as espinhas para trás e se preparando para sua longa jornada da vida.
Nesta sua existência, muitas
fases foram deixadas pelo caminho, um caminho tortuoso, cheio de emendas e
correções de rumo. Um ponto porém, não mudou desde sua promulgação: Ela
continua sendo desrespeitada.
O ponto que sempre nos batemos é
a inconstitucionalidade material (art. 5º, XIII c/c Art. 205 da CF versus Art.
8º, IV da Lei 8.906/94) e formal (Art. 84, IV versus Art. 8º, § 1º da Lei
8.906/94) do Exame de Ordem da OAB. O flagrante desrespeito às normas
constitucionais – aliado ao silêncio do Ministério Público e a parte do
Judiciário – atinge hoje cerca de 4 (quatro) milhões de brasileiros (segundo a
própria OAB...) impedidos de trabalhar por causa de um exame ilegal, imoral e
até criminoso se analisarmos o que ele faz na vida destes milhões de
brasileiros.
A trajetória épica da OAB no
século passado fez desta entidade uma fortaleza de respeito e honradez. Esta
couraça aos poucos vai sendo corroída pelas atitudes dos atuais líderes da OAB,
mas ainda assim, ela é uma entidade que causa respeito, temor e, porque não
dizer, medo em muitas pessoas. Ninguém em sã consciência quer bater de frente
com tal entidade. Afinal, ela é organizada em todo o País, recolhe as anuidades
mais caras (aliás, só ela pode...), tem uma grande bancada de parlamentares em
todas as casas legislativas brasileiras, faz sombra ao Ministério Público em
muitas ações, nomeia através do 5º Constitucional desembargadores e ministros a
seu bel prazer e seus líderes são tão populares, que a campanha para presidente
estadual é quase uma eleição para governador.
De outro lado, uma minoria...
Dos 4 milhões de vítimas, poucas são as pessoas que tem fibra para bater de
frente com a OAB, proclamar a inconstitucionalidade do Exame de Ordem e buscar
respeito à Constituição Federal.
Vítimas desde 1.996, os
Bacharéis em Direito tem pouco mais de 1 ano e meio de organização através da
Entidade “Organização dos Acadêmicos e Bacharéis do Brasil” (OABB) que coordena
o Movimento Nacional dos Bacharéis em Direito (MNBD). Temos líderes em todos os
Estados, nas maiores e nas menores cidades. Porém, não temos salas, telefones,
endereços. Tudo funciona informalmente na base de cada colega, de cada
bacharel...
Não temos nem o que falar em
bancadas no Congresso, estrutura financeira ou formal. Nada temos senão o
Direito insculpido na Constituição Federal e nossa vontade de fazer valer o
direito e promover Justiça...
Já nos compararam com formigas
atacando um elefante... Descobri, porém, que nossa melhor definição seria um
ser menor ainda: Um piolho...
Analisem comigo: o piolho é uma
lêndea quase invisível, esmagada na ponta das unhas e temida não pelo que é,
mas pelo que transmite: typhus exanthematicus que
causa a doença chamada de Tifo. Um germe pequeno e insignificante como o piolho
causa uma doença que mata em pouco tempo. Começa com febre e dor de cabeça,
passa para tremores, chega a causar erupções na pele e leva a uma exaustão
mortal...
O insignificante
germe fez história silenciosamente. É pelo menos o que afirma o historiador
Norte Americano Stephan Talty, que reconstruiu a história médica da malfadada
campanha de Napoleão na Rússia em 1.812, no seu livro, "The Illustrious
Dead: The Terrifying Story of How Typhus Killed Napoleon's Greatest Army"
["Os Mortos Ilustres: A Terrível História de Como o Tifo Destruiu o Grande
Exército de Napoleão", em tradução livre].
Assim, um exército
de 600 mil homens com as mais modernas armas da época, comandado por um dos gênios
militares da humanidade, com um poder bélico inimaginável, foi derrotado por
uma lêndea que se multiplicou... Como não foi levado a sério, o germe
transmitiu sua doença e matou mais de 400 mil homens antes da volta das tropas
à França. Faltou informação e antibióticos ao grande Napoleão Bonaparte...
Assim são os
bacharéis em Direito... Insignificantes,
invisíveis, facilmente abatidos um a um pelas poderosas e gigantescas unhas da
OAB, mortos a cada exame ilegal e imoral aplicado...
Não temos nosso
Direito defendido por nenhuma grande instituição – nem pelo Ministério Público
a quem já ofertamos inúmeras representações por ação civil pública coletiva –
e, até por força da mídia da OAB, até a sociedade nos vê como parias, como
aqueles que não conseguiram passar em um “simples Exame de ordem”...
Porém, assim como os
piolhos, carregamos uma “doença” mortal para o grandioso exército da OAB: Nossa
fundamentação sólida na Constituição Federal e nossa fé no Estado Democrático
de Direito.
Destarte, a cada dia
nos multiplicamos, nos solidificamos... Temos uma arma poderosa apesar de
invisível também: Nosso conhecimento. Afinal, somos “piolhos” de nível
superior, com 5 anos de ensino acadêmico de Direito... “Piolhos” que já se
misturam no exército adversário e que ajudam outros “piolhos” a se tornarem
advogados.
Com estes “piolhos”
com carteira, mais e mais ações chegam ao Judiciário. Com mais ações, mais
decisões favoráveis a nós são exaradas. Estas sentenças judiciais (no Rio
Grande do Sul, Goiás e Rio de Janeiro) declarando a inconstitucionalidade do
exame, mais Projetos de Lei chegarão ao Congresso para se juntar aos 5 (cinco)
que já tramitam na casa... E assim começa uma epidemia...
Temos ainda colegas
que, impedidos de trabalhar como advogados, deixam o Brasil e em seus novos
países divulgam a monstruosidade que está sendo cometida pelo Brasil – um país
com fama de democrático no exterior – e organismos da ONU já estão sendo
contatados... É como se inicia uma pandemia...
Todos os membros –
dirigentes e filiados – da OABB/ MNBD, já foram mais de uma vez ridicularizados
até mesmo por outros “piolhos”... É até comum que acadêmicos que ainda não
passaram pelo exame satirizem bacharéis, até que eles mesmos sintam na pele a
questão, não só a ilegalidade, mas a forma que a OAB se utiliza do Exame de
Ordem para barrar o acesso à advocacia... Quem tiver alguma dúvida, é só pegar
uma prova e tentar fazê-la em 5 horas...
Já afirmei que, no
dia em que TODOS os advogados fizerem a mesma prova a cada 2 ou 3 anos e, os
não aprovados não puderem advogar, vai faltar advogado para apagar a luz nas
OABs estaduais e com certeza, na maioria dos fóruns brasileiros... Mesmo nas
grandes capitais...
O que nos move é a
fé. Esta palavra tem uma das maiores listas de significados do dicionário
brasileiro. Mas para nós, significa apenas confiança, certeza de que temos uma
chance real de mudarmos uma aberração, já que ao nosso lado está a
Constituição. É uma questão de tempo...
A fé faz coisas
quase impossíveis se tornarem realidade. Se tivermos confiança e juntarmos com
outra base – a União – teremos finalmente um caminho que irá nos aproximando de
nossa meta a cada dia.
Gosto de afirmar que
não somos os maiores, não somos os melhores, mas somos tão bons como muitos que
só nos oprimem por causa da estrutura que tem. Aliás, podemos afirmar que somos
melhores que nossos oponentes sim, pois mesmo em desvantagem ‘bélica” estamos
obtendo vitórias. Mesmo insignificantes estamos deixando dia a dia de ser
invisíveis e aumentando o volume de nossa voz.
Pouco tempo ainda de
luta já marcou vitórias impensáveis até poucos anos atrás. E temos muito tempo
pela frente, temos nossas vidas a devotar e nada temos de pascácios. Temos
inúmeros exemplos na história de pequenos grupos que venceram exércitos
gigantescos.
Com a Constituição
ao nosso lado, podemos sempre afirmar que o “tempo será o Senhor da
Razão”... Hoje “piolhos”, amanhã...