Novos doutores
Em
SP, 12 mil advogados entraram no mercado em 2007
Revista Consultor
Jurídico,
7 de janeiro de 2008
por Lilian Matsuura
e Daniel Roncaglia
No ano passado, 12.552 novos advogados chegaram ao
mercado de trabalho no estado de São Paulo. Foram feitos três Exames de Ordem.
No primeiro, de número 131, foram aprovados 3.825 candidatos. Na prova
seguinte, 5.547 bacharéis se tornaram advogados. O Exame de Ordem 133 colocou
mais 2.845 profissionais no mercado. Haveria ainda um quarto exame no ano, que
foi cancelado por suspeita de fraudes. Desde 2005, são mais de 30 mil novos
advogados no estado.
A maioria dos advogados é oriunda de escolas não
tradicionais. O percentual de aprovados nessas faculdades ainda é baixo se
comparado com o das universidades tradicionais. Mas, escolas como USP,
Mackenzie e PUC, que mantiveram os bons índices de aprovação na última prova,
têm menos profissionais no mercado. Assim, profissionais formados em escolas
não-tradicionais tendem a se tornar maioria no exercício da advocacia.
Quem mais aprovou em 2007 no Exame de
Ordem foi a Unip, em números absolutos. Considerada apenas a capital
paulista — a universidade tem outras 14 unidades no estado — a escola colocou
no mercado 854 novos advogados no ano passado. Em segundo lugar aparece a FMU,
outra escola privada e não tradicional, com 829 aprovados nos três exames. Em
seguida, estão Mackenzie (719 advogados), PUC-SP (461) e USP (412).
No Exame 133, com 17.892 candidatos, a taxa de
aprovados foi de 17,7%. Na edição anterior, a taxa de aprovação foi a mais alta
dos últimos oito Exames: 30,43%
No primeiro lugar do ranking de taxa de eficiência
do Exame 133 está a Faculdade de Direito da USP, que aprovou 74,1% dos seus
alunos. Ao todo, 62 alunos prestaram a segunda fase da
prova e 46 foram aprovados. No segundo lugar ficou o Mackenzie, com 73,8% de
aprovação: de 420 bacharéis, 310 foram aprovados.
A Unesp Franca ficou em terceiro lugar. Aprovou 11
dos 17 participantes (64,7%). Em seguida, vem a PUC-SP (54%). Dos 50 alunos que
se fizeram a prova, 27 conseguiram a carteira da OAB.
A PUC-Campinas aparece em quinto lugar, com 41 aprovados e índice de 44,9%.
Este Exame de Ordem é peculiar. O presidente da
Comissão de Exame de Ordem da OAB-SP, Braz Martins Neto, diz que parte
dos candidatos é daqueles que não conseguiram passar nos concursos que
aconteceram no começo do ano, do qual participam os recém-formados. Por isso, o
número de inscritos é menor e o de aprovados também cai.
No ranking das escolas menos tradicionais, a FMU
conseguiu uma média de aprovação de 24,5%. Aprovou 193 alunos dos 787 bacharéis
que prestaram a prova. A Unip participou do Exame 133
com alunos de 18 unidades. A de Ribeirão Preto foi a mais bem-sucedida: 21% de
aprovados. A escola teve 229 alunos presentes na prova e 48 novos advogados. Da
Unip São Paulo receberão a carteira de advogados 242
bacharéis, de 1.946 que fizeram a prova (12,5%).
Braz Martins Neto disse que não cabe a ele criticar
o desempenho das escolas que aprovam menos percentualmente. “Tenho que
prestigiar as boas”, declarou. Mas fez questão de falar que as propagandas de
escolas como a Unip e FMU, de que tem o maior número de aprovados, são
equivocadas. Para ele, o que vale é a proporcionalidade: inscritos x aprovados.
Depois da fraude no Exame de Ordem 134, Braz
Martins Neto afirma que ainda está selecionando as questões para a prova que
acontece no próximo dia 27. Nesta quarta-feira (9/1), a prova estará pronta e
será entregue ao Cespe — entidade que a aplica. No dia 15, ela será homologada
e enviada a Brasília para impressão.
Visão das escolas
Para o coordenador-geral do curso de Direito da
Unip, Ruben Teixeira Garcia, o número de advogados que chegou ao mercado
é até pequeno. “Basta olhar, por exemplo, a quantidade de vagas sobrando no
serviço público na área do Direito. Há carência de juízes, de promotores, de
delegados, de procuradores de municípios. Isso significa que o mercado tem
muito espaço a ser ocupado ainda”, afirma.
Para Garcia, a dinâmica da economia pede profissionais
de Direito habilitados. E, à medida que crescem os negócios, cresce o mercado
de ação dos advogados. O coordenador afirma que a crítica de que há uma
indústria de escolas de Direito é infundada e elitista. “A crítica parte
daqueles que estão dentro do sistema, que querem evitar a concorrência ampla,
importante em um mercado aberto como o brasileiro”, diz.
Formado pela USP em 1980, Ruben Teixeira Garcia
ainda levanta a questão de que a USP aprova mais porque já recebe, em geral, um
aluno mais qualificado, um aluno cuja família tem condições de permitir que ele
dedique mais tempo aos estudos. Já as universidades privadas recebem os alunos
que, se elas não existissem, não teriam possibilidade de se formar e alargar a
possibilidade de alcançar condições melhores de vida. “Onde estariam os 242
advogados formados na Unip que, segundo a OAB, estão aptos para exercer a
profissão, se a universidade não existisse?”, questiona.
Para o professor Núncio Theophilo Neto,
diretor da Faculdade de Direito do Mackenzie, o número de novos profissionais é
razoável para um universo do tamanho do estado de São Paulo. “Temos que
considerar o crescimento das demandas e da quantidade de negócios, que exigem
cada vez mais conhecimento amplo. É o número que o mercado exige”, afirma.
Este equilíbrio pode ser creditado, para ele, ao
Exame de Ordem. “A quantidade de pessoas que ingressam no curso no Direito é
maior do que é necessário”, afirma o professor. Ele, porém, não pensa que
existam escolas em excesso. “Acredito no valor do conhecimento e gosto muito de
escola. Mesmo sem passar no Exame, o estudante se aprimora como pessoa. Tem
condição de compreender melhor as coisas da vida”, afirma. Theophilo lembra que
estes profissionais podem exercer atividades em outras áreas fora do Direito.
O professor afirma que, depois que passa no Exame
de Ordem, o advogado oriundo de escolas menos tradicionais demonstra grande
capacidade de superação. Mas, ele não será visto da mesma forma no mercado de
trabalho. “Muitos escritórios, quando promovem seleções, não se baseiam apenas
no Exame da Ordem, mas também no nome da universidade”, afirma Theophilo
Já o professor João Grandino Rodas, diretor
da Faculdade de Direito da USP, não tem a mesma visão. Dos 12 mil novos
advogados, ele acredita que apenas 6 ou 8 mil exercerão a profissão. Para ele,
alguns não chegarão por falta de oportunidade e outros por falta de desejo. “Em
poucos lugares no mundo chegam tantos advogados ao mercado como
O aumento de advogados no mercado, para Grandino
Rodas, tem um lado positivo e um negativo. Em primeiro lugar, ele renova os
profissionais. Por outro, os honorários diminuem de valor por causa da
concorrência. “Em lugares menores, se nota a relativização da hora trabalhada
em função da oferta”, explica.
A grande procura pelo curso de Direito, segundo
Grandino, decorre da visão tradicionalista de algumas famílias. “No Brasil, os
pais ainda acham que os filhos devem fazer um curso tradicional como Direito,
Medicina e Engenharia. É uma característica que não foi ultrapassada”, afirma o
professor.
Para Grandino, o aumento no número de escolas faz
com que as outras rebaixem a qualidade. “A falta de cuidado de alguns cursos
tende a fazer com que os outros relativizem”, argumenta.
Segundo o professor, para que os cursos de Direito se tornem melhores é preciso
que o Ministério da Educação, OAB e as próprias faculdades elaborem planos de
qualidade.
|
Resultados dos Últimos Exames da
OAB-SP |
||||
|
Inscritos |
Presentes |
Aprovados |
||
|
Total |
Taxa |
|||
|
133 - Set/2007 |
18.487 |
17.892 |
3.180 |
17,77% |
|
132 - Mai/2007 |
20.173 |
18.229 |
5.547 |
30,43% |
|
131 - Jan/2007 |
28.195 |
27.079 |
3.825 |
14,13% |
|
130 - Set/2006 |
19.644 |
18.660 |
3.016 |
16,16% |
|
129 - Mai/2006 |
22.207 |
20.975 |
2.053 |
9,79% |
|
128 - Jan/2006 |
28.331 |
27.382 |
3.128 |
11,42% |
|
127 - Ago/2005 |
17.978 |
17.515 |
3.295 |
18,81% |
|
126 - Mai/2005 |
27.724 |
26.912 |
5.727 |
21,28% |